Monday 10 March 2008

Gringa

Bom, agora foi a gota d'agua. Fui chamada de gringa na rua em plena luz do dia! Depois da revolta momentanea, eu me conformei. Basta uma olhada no reflexo de qualquer vitrine na rua pra admitir que o erro nao foi tao condenavel. Afinal de contas, em epoca de ano novo e carnaval os vendedores de Copacabana vem falar em ingles comigo... Cheguei entao a seguinte conclusao: melhor assumir a condicao de gringa. E para comecar a todo vapor, resolvi comprar uma excursao com guia para a cidade de Antigua! Domingao, nada pra fazer, vamos la. Foi um bom jeito de matar o tempo no fim de semana. Nao digo isso querendo desmerecer a cidade. Antigua foi a terceira capital da Guatemala, depois que os maias expulsaram os espanhois da primeira em revolta contra a cobranca de impostos, e depois que a segunda foi soterrada por uma avalanche de lama, quando o "vulcao de agua", que fica ao lado de Antigua, entrou em erupcao e lancou para cima da cidade todo o deposito de agua e terra que estava acumulado na cratera. A capital se mudou mais tarde para onde esta hoje, em Cidade da Guatemala, depois que Antigua foi arrasada por um terremoto de escala 9, com destruicao total. Ou seja, uma historia linda. Como antiga capital de toda America Central, Antigua tem muita historia. Naquela epoca, so se queria que nobres e governantes habitassem a cidade (o que acabou concentrando todos eles e matando varios ao mesmo tempo no terremoto). A cidade foi toda desenhada por um arquiteto italiano, se nao me engano da Toscana, e os patios internos sao lindos. Muita coisa foi reconstruida, as pessoas foram voltando aos poucos, e hoje em dia parece ser uma cidade totalmente dedicada ao turismo. E uma mistura de uma Parati, pelas ruas e casas antigas, so que menos conservada, com uma Buzios, pela quantidade de gente e de bares e restaurantes, so que bem mais pobre. Para completar, Antigua e o centro principal de comemoracoes da semana santa, nao so do pais, mas de toda essa regiao. Vem gente de todas as partes, e as procisoes comecam no primeiro domingo de marco. No domingo em que eu estive la, a cidade estava insuportavel de tanta gente. A procisao e silenciosa e comportada, varios homens levam pela cidade uma imagem imensa de Jesus carregando a cruz, muito pesado mesmo, me disseram que pesa umas 3 toneladas. Eles se revezam durante todo o dia, comeca as 6 da manha e termina as 2 da madrugada do dia seguinte. Atras vem as mulheres, que sao beeeem menos numerosas e nao dao conta de carregar a imagem da virgem, e tem que ser ajudadas pelos homens. Os mercados e lojas da cidade vendem de tudo. Os que sao frequentados pela populacao local sao muito simples. Fui com o meu companheiro de excursao italiano ao mercado central, depois que o guia nos abandonou ao nosso proprio destino. Um galpao enorme, coberto, escuro, parece labirinto de hamster. Ele olhou pra mim e perguntou cabreiro: a gente vai entrar ai? Entramos e saimos vivos, mas nao e garantido. Parece um Sahara em minitaura, tem desde aparelhos de som a frutas e fantasias. Ja os mercados dedicados aos turistas sao cheios e coloridos, so com artesanatos locais. O mais divertido e que voce tem que negociar os precos. Minha primeira compra nao foi um grande sucesso, comprei um pedaco de pano que estava por 125 Quetzales por 95. Ja na segunda, consegui baixar o preco de 75 para 45. Fiquei toda feliz, mas prefiro nao ficar pensando que na verdade o treco deve valer uns 30. Acho que a Julia tem razao quando diz que eu ja fiquei tempo demais nas terras alemas. Confesso que tenho estranhado muito a intimidade do tratamento pessoal aqui - mais um motivo pra me chamarem de gringa. O motorista da van que nos levou ate Antigua nao teve a menor cerimonia, me chamou de Julianita desde o momento em que eu subi no carro. Os taxistas dos Taxis Amarillos, os unicos que eu pego, as vezes ja me reconhecem. Outro dia eu entrei no taxi e, ao inves do regular "buenos dias", o taxista vira pra mim e fala "hola Juliana"! Fazer o que...

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