Monday 14 April 2008

Ressaca

Cheguei na Alemanha há pouco mais de uma semana. Viajei demais, e estou de ressaca até hoje. Meio que nem bêbado passando mal dizendo que nunca mais vai beber. A sensacao é de que eu nunca mais vou querer viajar. Mas já estou planejando Barcelona para agosto, entao isso nao deve durar muito... mas que eu estou enjoada, estou. Até porque a viagem de volta da Guatemala nao ajudou muito. Estive em OZ. A foto acima mostra a minha cela coletiva. Explico: em um misto de desatencao, burrice e péssima escolha de agentes de viagem, terminei chegando ao México sem visto. Mas antes de sair da Guatemala eu já tinha sido alertada pela mulher da compania aérea, que me disse que eu teria que pagar uma taxa. Foi só isso que ela disse, entao eu fui tranquila, pronta para a última facada da viagem, mas tranquila. Mesmo antes de sair da Guatemala, já vi que a coisa nao ia ser bem assim. Ao embarcar, a mocinha que geralmente destaca o seu cartao de embarque e checa o seu passaporte me deu atencao especial. Destacou meu cartao de embarque, tomou meu passaporte, e me escoltou pessoalmente até o aviao, onde entregou meus documentos ao comissário de bordo responsável. Vendo a cena, eu comecei a ficar nervosa: mas como assim? Eu vou ficar sem o meu passaporte??? Nao se preocupe senhora, o seu passaporte vai estar aqui o tempo todo, e a senhora vai recebe-lo de volta em Amsterdam. Hein??? Resolvi nao discutir, já traumatizada com as histórias de terror contadas por brasileiros aprisionados pelo mundo afora. Antes do aviao sair do lugar, liguei pro Bernardo do celular e avisei: se eu sumir, me procura no México. Chegando lá... veio uma outra mulher me receber no aviao, ainda dentro do minibus que busca a gente no aviao. Ela recebeu meu passaporte do comissário, preencheu mil papéis na minha frente, me fez assinar um (que ela só me explicou o que era da terceira vez que eu insisti que ela me explicasse, acho que ela nao está acostumada a gente que faz perguntas) e me acompanhou até a sala, que vocês vêem aí em cima. Na hora da foto estava tranquilo. Quando eu cheguei, umas horas antes, só tinha uns caras esquisitissimos. Super agradável. Fiquei na sala por 5 horas, até o próximo vôo. Fui levada para almocar por um guarda, junto com uma hondurenha que tb estava na sala. No caminho nao pudemos comprar nada, porque estavamos sem o nosso passaporte. No lado positivo, a sala até era ampla, toda de janelas, como vocês podem ver (assim nao tinha risco de coisas bizarras acontecerem lá dentro), tinha banheiro feminino e masculino sem papel, bebedouro, orelhao e tomadas funcionando. Fiquei o tempo todo jogando paciência e vendo South Park no meu laptop, o que me fez pagar um certo mico na hora de ser levada pra almocar, já que o guarda ficou um tempao chamando o meu nome e eu nao me manifestava, por causa dos fones de ouvido. No geral, ficar ali detenta nem é tao ruim assim. O desagradável mesmo é ser tratada como fora da lei, tendo seu passaporte tomado e ficando sob custódia de um guarda. Ao embarcar no aviao para Amsterdam já recebi o passaporte de volta e fiquei tranquila. De qualquer forma, acho que rolou uma overdose de viagem. Em meio às pilhas espalhadas pela minha sala - pilha de livro, de xéroxes, de roupas, de documentos... - encontrei uma pilha nova: a pilha de cartoes de embarque. Nunca tinha juntado tantos de uma vez só. Ao todo foram 13 em 2 meses!!! Fiquei chocada. A única esperanca é acumular uma boa quantidade de milhagem... mas pensando bem, só serve pra viajar mais... argh... Aí vai o saldo final do itinerário latino-americano do primeiro semestre de 2008 (nunca se sabe o que vai acontecer no próximo semestre da vida de um doutorando):
Stuttgart-Paris
Paris-Bogotá
Bogotá-Panama
Panama-Guatemala
Guatemala-Panama
Panama-Rio
Rio-Panama
Panama-Guatemala
Guatemala-Flores (Tikal)
Flores-Guatemala
Guatemala-Mexico
Mexico-Amsterdam
Amsterdam-Stuttgart

Voilá.

Monday 31 March 2008

Sábado em Tikal




Esse sábado fui visitar o Parque Tikal, o maior sítio arqueológico da civilizacao Maya de toda América. Este sítio tem vestígios que mostram sua habitacao desde o ano 900 a.C. até 800 d.C., mas em outros lugares a civilizacao maia existiu desde 5.000 a.C. O parque é impressionante. As construcoes sao lindas e enormes, todas de pedra, e tudo é orientado em funcao do céu, de onde vinham os deuses. Todas as pracas têm um espaco central entre os prédios, justamente para recebre os deuses (super Arquivo X). Para se ter idéia do avanco científico, eles desenvolveram o calendário mais exato do mundo (melhor que o nosso, parece), e tinham também um observatório astronômico. Os arqueólogos imaginam que os Maya tenham deixado Tikal por causa das guerras com povos vizinhos e pelo aumento populacional exagerado, que causou o desmatamento e o uso degradante do solo, dificultando a sobrevivencia na regiao. Segundo o site do parque na internet, os Maya abandonaram a cidade há mais de 1.000 anos. Aos poucos o local foi sendo coberto pela floresta e se tornou uma lenda entre os indígenas, que se referiam a ele como a "cidade perdida". Tikal foi redescoberta em 1848, e em 1956 comecou a ser escavada pela Universidade de Pennsylvania. Hoje em dia, além dos templos e ruínas que estao à mostra, com a ajuda da NASA (!) se tem conhecimento de muitas outras construcoes que ainda estao de baixo da terra. Desde 1979 Tikal é Patrimônio Mundial da Humanidade UNESCO.
Para vocês terem uma idéia do quao fantástico é o parque: eu paguei para acordar às 4 da manha (depois de ir dormir à 1), pegar um aviao de hélice para 20 pessoas que fazia tanto barulho por dentro quanto os ônibus do Rio de Janeiro, caminhar o dia inteiro debaixo de um sol tao forte que me fez deixar a Tussigkeit de lado e usar boné (!!), conviver de perto com plantas e animais de verdade, e no final do dia voltar no mesmo aviaozinho, só que depois de uma chuva violenta e com o céu ainda nublado e com vento (o que nao me incomodou muito, já que eu estava tao exausta que dormi o vôo todo, ao contrário da americana histérica com sapatos de oncinha sentada perto de mim, que estava transtornada com o calor), e ainda assim voltei pra casa super satisfeita e encantada com tudo que eu vi. Recomendo com empenho.
P.S.: a foto comprova que eu usei boné (emprestado pela mae da Ariela)!

Thursday 27 March 2008

Blogs rule

Gente, definitivamente, os blogs hoje em dia sao o que há. Minha mae tinha me perguntado o que eu achava de ela fazer um blog do Museu Magüta (dos Tikuna, para quem nao conhece) e eu respondi que achava amador demais, mas já me arrependi da resposta. De fato, nao fica tao profi quanto um website de verdade, já que tem esse sinalzinho laranja aí em cima (que nao dá pra saber se é uma caneca, um cadeado torto, um patinho sem bico...) e "blogspot" no endereco, mas a verdade é que, se bem organizado, pode ficar com uma cara ótima (diferente desse aqui), além de estar super in. Bom, tudo isso porque hoje eu descobri que a sub-sede dominicana do Parlacen tem um blog! É muito bonito, e tem uma cara super profissional, apesar da caneca-patinho. Solucao nada pretenciosa, perfeita para organizacoes com sérias restricoes orcamentárias.
Para quem se interessar: http://www.parlacenrd.blogspot.com/

Tuesday 25 March 2008

Monday 17 March 2008

Pergunta

Pergunta da colombiana sentada do meu lado no avião que peguei do Panamá para o Rio: "você é gringa?"

Monday 10 March 2008

Gringa

Bom, agora foi a gota d'agua. Fui chamada de gringa na rua em plena luz do dia! Depois da revolta momentanea, eu me conformei. Basta uma olhada no reflexo de qualquer vitrine na rua pra admitir que o erro nao foi tao condenavel. Afinal de contas, em epoca de ano novo e carnaval os vendedores de Copacabana vem falar em ingles comigo... Cheguei entao a seguinte conclusao: melhor assumir a condicao de gringa. E para comecar a todo vapor, resolvi comprar uma excursao com guia para a cidade de Antigua! Domingao, nada pra fazer, vamos la. Foi um bom jeito de matar o tempo no fim de semana. Nao digo isso querendo desmerecer a cidade. Antigua foi a terceira capital da Guatemala, depois que os maias expulsaram os espanhois da primeira em revolta contra a cobranca de impostos, e depois que a segunda foi soterrada por uma avalanche de lama, quando o "vulcao de agua", que fica ao lado de Antigua, entrou em erupcao e lancou para cima da cidade todo o deposito de agua e terra que estava acumulado na cratera. A capital se mudou mais tarde para onde esta hoje, em Cidade da Guatemala, depois que Antigua foi arrasada por um terremoto de escala 9, com destruicao total. Ou seja, uma historia linda. Como antiga capital de toda America Central, Antigua tem muita historia. Naquela epoca, so se queria que nobres e governantes habitassem a cidade (o que acabou concentrando todos eles e matando varios ao mesmo tempo no terremoto). A cidade foi toda desenhada por um arquiteto italiano, se nao me engano da Toscana, e os patios internos sao lindos. Muita coisa foi reconstruida, as pessoas foram voltando aos poucos, e hoje em dia parece ser uma cidade totalmente dedicada ao turismo. E uma mistura de uma Parati, pelas ruas e casas antigas, so que menos conservada, com uma Buzios, pela quantidade de gente e de bares e restaurantes, so que bem mais pobre. Para completar, Antigua e o centro principal de comemoracoes da semana santa, nao so do pais, mas de toda essa regiao. Vem gente de todas as partes, e as procisoes comecam no primeiro domingo de marco. No domingo em que eu estive la, a cidade estava insuportavel de tanta gente. A procisao e silenciosa e comportada, varios homens levam pela cidade uma imagem imensa de Jesus carregando a cruz, muito pesado mesmo, me disseram que pesa umas 3 toneladas. Eles se revezam durante todo o dia, comeca as 6 da manha e termina as 2 da madrugada do dia seguinte. Atras vem as mulheres, que sao beeeem menos numerosas e nao dao conta de carregar a imagem da virgem, e tem que ser ajudadas pelos homens. Os mercados e lojas da cidade vendem de tudo. Os que sao frequentados pela populacao local sao muito simples. Fui com o meu companheiro de excursao italiano ao mercado central, depois que o guia nos abandonou ao nosso proprio destino. Um galpao enorme, coberto, escuro, parece labirinto de hamster. Ele olhou pra mim e perguntou cabreiro: a gente vai entrar ai? Entramos e saimos vivos, mas nao e garantido. Parece um Sahara em minitaura, tem desde aparelhos de som a frutas e fantasias. Ja os mercados dedicados aos turistas sao cheios e coloridos, so com artesanatos locais. O mais divertido e que voce tem que negociar os precos. Minha primeira compra nao foi um grande sucesso, comprei um pedaco de pano que estava por 125 Quetzales por 95. Ja na segunda, consegui baixar o preco de 75 para 45. Fiquei toda feliz, mas prefiro nao ficar pensando que na verdade o treco deve valer uns 30. Acho que a Julia tem razao quando diz que eu ja fiquei tempo demais nas terras alemas. Confesso que tenho estranhado muito a intimidade do tratamento pessoal aqui - mais um motivo pra me chamarem de gringa. O motorista da van que nos levou ate Antigua nao teve a menor cerimonia, me chamou de Julianita desde o momento em que eu subi no carro. Os taxistas dos Taxis Amarillos, os unicos que eu pego, as vezes ja me reconhecem. Outro dia eu entrei no taxi e, ao inves do regular "buenos dias", o taxista vira pra mim e fala "hola Juliana"! Fazer o que...